Amor, Paixão e Outras Prosas

Se tem um santo cujo o martírio não terminou após a sua morte é o pobre do Santo Antônio. Conhecido como Casamenteiro, há incontáveis séculos, solteiras vem inflingindo castigos a imagem do santo na esperança de conseguir um bom partido, ou pelo menos um partido.

Hoje, investigando melhor a história desse tão sofrido ícone da Igreja Católica me deparei com uma série de simpatias inusitadas para se conseguir um casamento. Essas vão desde amarrar fitas na imagem, até mergulhar o santo nos mais variados tipos de líquidos (água, feijão, chá de rosas, etc.)

O que poucos sabem é que o jovem Fernando - nome de batismo de Santo Antônio - não tinha a mínima vocação para cupido. Muito pelo contrário, era um jovem mais reservado e dedicado aos estudos (o que nós chamamos, com todo o respeito, de Nerd). Mas após um encontro com um franciscano, resolveu dedicar sua vida ao cuidado aos pobres e necessitados.

Mas então, afinal de contas, de onde surgiu a fama de casamenteiro? Reza a lenda mais conhecida - e mais inusitada - que uma jovem muito linda, mas cansada de esperar por um noivo que não chegava, se apegou a Santo Antônio. Foi ao santeiro da cidade, adquiriu uma imagem, mandou benzer, colocou-a no oratório e ali lhe levava todos os dias as flores que colhia no jardim e o vintenzinho de promessa.

Mas, passaram-se semanas, meses, anos... e nada. O noivo não aparecia, nem se falava na redondeza que algum rapaz ou mesmo, à falta de outro, algum velhote ricaço se tivesse por ela inclinado. Certa vez, depois de consultar o espelho e ter descoberto prenúncios de pés de galinha, se pôs a lamentar da ingratidão do santo, chegando mesmo a ser repreendida pela mãe. E, desapontada pelo poder miraculoso do santo, toma a imagem e, no auge do desespero, atira-a pela janela afora.

Passava na rua, naquele momento, um jovem cavaleiro que a recebe, em cheio, sobre a cabeça. Apanha-a, intacta e sobe a escada do sobrado, de cuja janela partira a imagem. Vem recebê-lo, por notável coincidência, a formosa e geniosa donzela. Apaixona-se por ela o cavaleiro e, tempos após, acabam casando, naturalmente por milagre do santo.